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quarta-feira, 17 de setembro de 2008

MEMÓRIA E PERSONALIDADE


Ibsen Noronha (*)

Um bom exemplo de recuperação de uma figura eminentíssima se deu na cidade de Crato


O filósofo francês Henry Bergson afirmava que uma pessoa que perde sua memória perde a sua personalidade. Palavras profundas que merecem uma breve reflexão.
De fato a memória é um dos nossos preciosos atributos personalíssimos. A dinâmica de nossas vidas depende, e muito, das experiências acumuladas ao longo de dias penosos ou alegres, fecundos ou estéreis.
Transpondo a afirmação de Bergson para uma perspectiva mais ampla, a perspectiva de um Povo, podemos afirmar simetricamente: um Povo que perde a sua memória perde a sua personalidade. Sob este ponto de vista recordar os momentos cimeiros das Nações é prestar grande serviço com o objetivo de consolidar um Povo com personalidade forte e cioso da grandeza do País.
O ano do Senhor de 2008 é um ano especialmente rico para o nosso Brasil. O maior orador sacro da língua portuguesa, o Padre Antônio Vieira, nasceu há exatos 400 anos. O Mestre da língua portuguesa, fundador da Academia Brasileira de Letras, Machado de Assis, deixou esta vida há um século. E são passados 200 anos desde que a Família Real Portuguesa transplantou a sede do Reino para este imenso Portugal chamado Brasil.
De fato, todas estas efemérides merecem lembrança, celebração e, mesmo, devoção. A História de um País se forma com grandes homens, que ousam ir além do quotidiano e marcar gerações com os seus “Christãos atrevimentos” – na marcante expressão de Camões!
Sobre a vinda da Família Real muito se tem escrito e falado. É bom sinal. A personalidade de Dom João VI, tão caricaturada e vilipendiada por uma historiografia amesquinhada e malsã, foi absolutamente revista e surgiu o estadista calmo e pacato, mas com visão profunda das realidades e capaz de decisões arriscadas e arrojadas.
Mas também as mulheres da Família Real vão sendo mais conhecidas e sua dignidade admirada... Um bom exemplo de recuperação de uma figura eminentíssima se deu na cidade de Crato. Há alguns anos, monarquistas do Cariri propuseram a vereadores um projeto que batizasse uma nova rua da cidade com o nome de Imperatriz Leopoldina. Os vereadores atenderam com presteza ao pedido. Contudo, deu-se o espanto quando a matéria foi colocada em votação! Alguns vereadores alegaram desconhecer tal Imperatriz e também seu importantíssimo papel na Independência do Brasil. O presidente da Câmara Municipal usou de sensatez.
Promoveu uma palestra sobre a nossa primeira Imperatriz. O projeto foi aprovado por 20 votos e uma única abstenção, de um vereador do PT. Sem dúvida o conhecimento da vida de Dona Leopoldina fortaleceu a personalidade dos edis de Crato e produziu um belo nome para a bela cidade do Cariri.
Infelizmente, noticiou-se a alteração posterior do nome, o que não tornam inválidas as observações aqui feitas sobre o valor do resgate histórico.

(*) Ibsen Noronha é Mestre em Direito pela Universidade de Coimbra, Portugal. É Professor de História do Direito em Brasília.
(Artigo publicado no “Jornal do Cariri”, edição de 16 a 22 de setembro de 2008)

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