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sexta-feira, 24 de abril de 2009

Quem se emociona com Susan Boyle?

Sinal dos tempos é isso aí. Uma senhora de 47 anos, nascida e criada numa cidadezinha da Escócia, teve problemas de desenvolvimento mental na infância, mora sozinha com um gato, nunca teve namorados ou foi beijada e é pobre. Um dia aparece num programa de televisão inglesa de grande sucesso: Britains´s got talent. O nome: Susan Boyle. Uma senhora de porte baixo, gorda, já aparentando mais de cinqüenta anos chega ao palco para a incredibilidade do júri do programa. Uma incredibilidade encenada, feita para criar um clima na platéia e na assistência. Francamente demonstram não acreditar na calouro enquanto ela diz que cantará I Dream uma canção do musical Les Miserabilis. Aí outra jogada de emoção: a canção é a mensagem da personagem Fantine da peça no momento em que esta sonha superar definitivamente a vida miserável que leva.

Afinal tudo é produção, tudo é feito para platéias de uma economia em crise. O sinal dos tempos. Panis et circensis. Por isso mesmo o escritor Marcelo Carneiro da Cunha, no blog Terra Magazine de Bob Fernandes, pretende ser Susan Boyle. E pretende por ser um escritor que tem o quê dizer, pretende dizer e escreve sem parar mesmo não tendo o sucesso de um Paulo Coelho. Então ele quer algo divino (ou midiático pois é o caso de Susan Boyle): “aquele instante de boa e pura mágica, em todos os anos que vieram antes, todo mundo viu apenas o jeito desengonçado e improvável de Susan e não a artista”. Marcelo acredita que Susan tem a “essência” do artista, aquela que fala ao coração dos homens e se comunica com Deus. Não disse, mas foi isso que ficou subentendido em sua solidão de artista que não arrasta multidões.

Circulou pela Internet a mais cabal prova que estamos criando a cultura, como nossos teóricos bem o dizem, a estética da crise. Já vimos isso em filmes de época, em pintura, literatura e até mesmo da arquitetura. Voltemos aos anos 30 e tudo se encontra bem catalogado. A estética da manipulação das pessoas em sofrimento, para que aplaquem sua raiva com a ruptura do progresso que lhes prometeram e não veio. Esta manipulação não é nova, sempre ocorreu, mas agora ela se encontra nitidamente dirigida para este sentido. Basta identificar as explicações que a imprensa inglesa oferta ao seu público.

Para muitos Susan é uma mensageira vinda para acordar a humanidade das frivolidades mundanas, quando a feiúra da personagem é a contraprova de uma Gisele Brünchen dos saborosos anos do consumo americano. Ou então seria Susan um anjo de esperança neste desespero mundial da crise capitalista. Susan seria uma “madre” trazendo esperança para as famílias em franca decadência no tecido social, a falta de emprego, a dignidade e a sanidade mental. Enfim, aquela que tinha tudo contra si, para os padrões vigentes na produção cultural capitalista, supera-se e esta superação é uma mensagem potente para que tudo mude para permanecer como se encontra. Isso quer dizer: a crítica não se encontra ao modo de produção, mas vangloriar os esfarrapados que na loteria do improvável conquistam o prêmio em pleno coliseu televiso.

Tudo encenado, as emoções dosadas, a música da mesma dimensão do investimento financeiro em superproduções, pois sem aquela música, sem aquela emoção já de todo “elaborada” por milhões de pessoas que puderam previamente pagar um ingresso nas grandes cidades do mundo para assistir ao musical, ou compraram os CDs e DVDs.

Afinal é Susan o anjo da indústria de entretimento globalizada a serviço dos anos de crise. Serviço tão perfeitamente adequado ao momento tecnológico de modo a apenas assim ocorrer em razão do You Tube.

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