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terça-feira, 6 de abril de 2010

O Rio se Desmanchando - por José do Vale Pinheiro Feitosa

É evidente: não é possível acrescentar mais nada ao que acontece agora no Rio de Janeiro. As televisões estão informando tudo. As rádios apenas falam do assunto. Os canais de TV a cabo estão com a programação em exclusividade no tema. Aí o que há para acrescentar para os blogs do Cariri?

A situação de acordo com o sentimento de cada um nesta cidade e desde ontem por volta das 17 horas. Portanto há mais de 24 horas. Moro numa rua de encosta, um prédio cujo segundo andar se encontra a dez andares da Rua Jardim Botânico. Apenas consegui chegar em casa, vindo do bairro da Gávea, mais ou menos a distância entre o Pimenta e o início da João Pessoa no Crato, depois de passar pelo Leblon, dar um tempo num Shopping, aí por volta das 23:30 horas.

Durante a missa de sétimo dia por Carlos Augusto Arraes de Alencar, filho do ex-governador Miguel Arraes, caiu a segunda tromba d´água aqui na Zona Sul. Mas a cidade inteira já estava toda alagada e as encostas caindo e matando gente. Peguei uma carona até o Leblon, numa destas Pajeros imensas, em meio a uma confusão generalizada. O Canal da Rua Visconde de Albuquerque no Leblon já começava a transbordar para as duas ruas paralelas.

Mas para se observar a situação de cada um, no microcosmo da perplexidade geral, estou aqui no computador, com todos os ouvidos atentos. Uma casa quase em frente ao nosso prédio, destas casas imensas com piscina solta na altura da encosta, teve a parte baixa de seu terreno deslizado. Destruiu um carro que estava estacionado junto ao muro e uma árvore obstrui a nossa rua.

A Rua Jardim Botânico está praticamente parada quando os engarrafamentos seriam a regra. O que se ouve são as sirenes da defesa civil. E o céu ameaça. Não pára de chover, ora com ventos fortes, noutras aqueles pingos que enchem um vasilhame de água. O Túnel Rebouças, não funciona, a Lagoa Rodrigo de Freitas invadiu as pistas laterais e, portanto, interrompeu o fluxo de saída do túnel.

Ontem à noite o motorista de taxi que se aventurou a vir até aqui comigo, era pura tensão. Um sujeito interessantíssimo. Muito conversador, mas de uma amabilidade misturada com a crítica à vida. Ele já tivera uma fábrica de fazer material de praia, guarda sol, barracas entre outras coisas. Uma fábrica com mais de 25 empregados. Perdeu seu negócio porque um concorrente, talvez lavando dinheiro de algum esquema fraudulento, destruiu a concorrência com preços impraticáveis face aos custos.

Ele me deixou aqui e se mandou para casa. A cunhada estava ilhada no centro da cidade. Não sei a hora, mas logo depois a barreira caiu e a via pela qual subi até aqui sofreu a interrupção. E a perspectiva? Começou o dia anunciando precariedade. O prefeito do Rio pediu que as pessoas não saíssem de casa. Anúncio do esgotamento da cidade e prenúncio de que a duração do temporal ainda duraria muito.

A medida exata do microcosmo é que uma colega de trabalho da Tereza, ambas saíram do centro da cidade por volta das 18 horas, apenas chegou em casa, num bairro vizinho ao centro, a Tijuca, por volta de 9:40 horas da manhã de hoje. Passou a noite inteira e parte da manhã sentada dentro do seu carro esperando que a situação melhorasse. Urinava em sacos de plástico.

E ouvindo os pingos da chuva, contam-se os segundos de uma longa noite de expectativas.

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