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domingo, 27 de abril de 2008

O Cariri erra em se achar pequeno

O Ceará teve grandes cidades, do ponto de vista político, social e econômico. Hoje o Ceará não tem mais grandes cidades: tem pólos, dos quais três de fato pesam. O pólo metropolitano, o pólo do Acarau em torno de Sobral e o pólo do Cariri com base num aglomerado urbano que poderia ser chamado Crajubar. Do ponto de vista político o pólo Metropolitano e o de Sobral se aliaram num projeto político que domina o Estado desde o final do período militar e quando das primeiras eleições diretas para governador. Parte de um projeto político mais tardio e conservador, o pólo do Cariri ficou relativamente à margem e a reboque desse processo. É disso, principalmente, que as eleições municipais deveriam tratar: quebrar a hegemonia e abrir espaços para o Cariri volte a influir com o peso que efetivamente tem, mas que se encontra escondido por uma espécie de fog que não permite enxergar todo o horizonte.

Antes de partir para outras considerações, o Cariri também sofreu a concorrência do rápido desenvolvimento do pólo de irrigação do São Francisco, tendo como centro Petrolina e Juazeiro da Bahia. No Piauí nada ocorreu de maior significado, assim como nas franjas do Cariri que dão na Paraíba e no Rio Grande do Norte. Passagem de importantes artérias viárias para Brasília e para o Sudeste do país, o Cariri, chuvoso e com uma forte estrutura educacional e de capitais acumulados, tem condições de retornar com o peso que lhe cabe (volto a insistir ele é menor relativamente) no Ceará e mas exatamente no interior nordestino e do semi-árido.

O historiador inglês Eric Hobsbawm observou que as sociedades evoluídas tiveram momentos importantes de sua vida quando seu povo, através de suas instituições de então, partiram para um projeto estratégico que resultou em algo muito maior e mais complexo até mesmo do que as idéias iniciais. Este é o momento do Cariri. Não será em 2010 e nem por apenas assistir passivamente a evolução da política nacional. As candidaturas para as prefeituras devem refletir o lugar no mundo para a região: aproveitar das vantagens do pólo de Petrolina e ser complementar a ele em termos do que pode ser extraído de valor agregado na agroindústria (trazer a EMBRAPA e associá-la à escola Agrotécnica e ao curso de Agronomia); desenvolver arranjos produtivos locais para ampliar a base da renda popular, ampliando assim o mercado consumidor regional (neste caso não ficar apenas ligado aos órgãos como SEBRAE, mas envolver os cursos universitários); estimular empresas de porte médio para a industrialização, logística comercial e serviços de apoio para o consumo do grande sertão; envolver o pólo gesseiro de Araripina para regionalizar novos produtos com valor agregado. Isso considerando o uso sustentável da flora e fauna tanto da bacia do Araripe quanto do semi-árido sertanejo.

Se o pólo Crajubar fizer algo estratégico neste sentido, o eixo do sertão muda e o do próprio Cariri. O Cariri, neste sentido deve olhar para o litoral com senso de oportunidade, mas não para ir morar e sim levar o que de melhor tem de sua vida regional. Não existe oportunidade maior do que as eleições deste ano. Vamos deixar as disputas partidárias nacionais e estaduais de lado e levantar a vozes que expressem quem somos e onde nos encontramos. Tentemos sair de cara da idéia que o futuro se encontra apenas em sua cidade, pois não é verdade. Vamos trazer para a cena pública os candidatos pelo menos das três cidades mais importantes e promovamos debates para observar o que pensam de idéias conjuntas, da região como um todo, que lugar pretendem para o Cariri no futuro.

Que tal numa tarde desta qualquer se juntarem para construir uma pauta de debate um conjunto de pessoas que hoje influenciam mais do que pensam com seus instrumentos modernos na Internet, impresso, no rádio e na televisão? Com risco de falhar na memória entre eles os editores do Blog do Crato, do Cariricult, do Cariri Agora, do Tarso Araújo, Vicelmo, entre outros de igual importância? Basta formular os grandes temas para um plano estratégico de recolocação da região em seu peso devido e debater com os candidatos. O valor deste debate depende muito desta agenda e do conteúdo das perguntas. Se o debate cair naquela de proteger a ou b, de atacar um ou outro, perde-se tempo e se recai no velho passado quando as cidades tinham peso. Tudo se torna apenas retórica e uma saudade imensa dos velhos tempos.

4 comentários:

Armando Rafael disse...

José do Vale,

Apesar de distante do Cariri você fez uma análise lúcida e atual sobre o momento vivido pela região.
Com efeito, o atual Governo do Ceará diz que o Crajubar tem de ser pensado como uma conurbação urbana e não como municípios isolados. Os secretários de Estado Ivan Bezerra, de Juazeiro do Norte, (Desenvolvimento Econômico) e Camilo Santana, de Barbalha, (Desenvolvimento Agrário) defendem no Governo que se deve encontrar um consenso sobre um planejamento estratégico comum para as três cidades do Crajubar que devem ser vistas como "área metropolitana". Por não possuir liderenças políticas de peso, Crato está ficando a reboque... Juazeiro do Norte, que tem 3 deputados federais ( José Arnon, Manoel Salviano, Gorete Pereira) e 2 estaduais ( Vasques Landim e Ana Paula Cruz) - e você sabe como funcionam as arrumações políticas - tem uma fatia considerável no bolo.
Um rápido exemplo: O Hospital Regional será em Juazeiro do Norte (8 andares, orçado em 53 milhões de reais). O Crato ficará com um centro de convenções ( R$ 7 milhões).
No Aeroporto Regional do Cariri, em Juazeiro, receberá investimentos da Infraero R$ 30 milhões. O Campus da UFC foi construído em Juazeiro (Até agora 7 milhões).Só nessas três são 90 milhões contra os 7 milhões de Crato.
Progressão aritmética X geométrica... Juazeiro do Norte, além disso, vem crescendo por gravidade, sem precisar mais de ações governamentais, por centralizar um centro comercial que atende a toda a área do centro nordestino.
Nada contra a Terra do Padre Cícero. O que chega lá (Shoppings, lojas - é a única cidade do interior do Nordeste que tem 2 filias das Lojas Americanas - agências bancárias,novas indústrias, etc. etc.) beneficiam todo o Cariri...
Mas a concetração de tudo, numa única cidade trará grandes problemas que vão da segurança à qualidade de vida...
Este um dado a ser pensado, que não está sendo visto pelas demais cidades do Cariri...

Glauco Vieira disse...

Armando,
sua análise 'tá mais que justa e perfeita, 'tá deveras coerente, assim como a de nosso amigo José do Vale. Só gostaria de complementar com algumas questões, sob a ótica de um geógrafo:
[1] A expansão urbana de Juazeiro não acompanha o passo de seu "inchamento" populacional, além da malha urbana não possuir infra-estrutura: pavimentação sem o mínimo de rigor de planejamento (sobretudo na área central e adjacências), afora os bairros interligados com avenidas que pecam na sinalização, não conservação e adensamento de quase todos os gêneros de veículos, ou seja, desorganização completa.
[2] A expansão da cidade pra zona Sul (Lagoa Seca) não resolveria a questão caso persista a falta de um planejamento urbano; pois resultaria no mesmo que aconteceu com Fortaleza a partir deseu crescimento desordenado à zona Leste (atual Aldeota);
[3] Estou para ver e crer que algum administrador público terá a coragem de perder seus eleitores que possuem comércio informal nas ruas de Juazeiro. É uma vergonha que persista aquela feira livre em trecho conhecido da rua São Paulo. Nalgumas quadras, Juazeiro nos faz lembrar de Istambul.
[4] Continuo achando precipitado tratar a conurbação Crajubar como região metropolitana. Antes de se criar uma região metropolitada, deve-se primeiro garantir o mínimo de infra-estrutura e serviços urbanos para a sede metropolita;
[5] Crato peca ainda pelo engessamento de suas práticas econômicas e políticas, o que ressona no tímido comércio e equipamentos urbanos; deve sair do ufanismo de um passado que não resolve as necessidades hodiernas e partir para uma prática contundente e renovadora de sua urbe;
[6] Unir todas estas questões àquela que se inscreve no futuro próximo: a manutenção de nossos aqüíferos e de nossos recursos naturais. A Chapada reclama por maior atenção; além do patrimônio ambiental, o que nos pese também a resignificação de nosso patrimônio cultural (i/material).

Armando Rafael disse...

Glauco,
Concorco com você em número, gênero e grau. Sua visão de geógrafo (por formação), aliada a sua reconhecida sensibilidade de músico, cineasta e sua vasta cultural geral, captaram olhares que eu não havia aprofundado.
Hoje mesmo, andando em Juazeiro do Norte nas proximidades do Campus Universitário eu fiquei espantado com o número de condomínios fechados e pequenos blocos de apartamento construídos e em construção. O crescimento da vizinha cidade é espantoso. E tudo está sendo feito sem a correspondente infra-estrutura (que cabe à Prefeitura) o que vai ocasionar, em futuro próximo, problemas terríveis.
Outra coisa que me chamou a atenção é que Juazeiro ainda não encostou em Crato, mas já está emendada com Barbalha. Nesta última cidade, os aluguéis de residências e o preço dos terrenos são mais valorizados que em Crato, o que significa que teve início a ocupação de Barbalha por pessoas que trabalham em Juazeiro do Norte e preferem Barbalha por esta ter melhor qualidade de vida...

Armando Rafael disse...

A propósito, Dom Fernando Panico criou e instalou mais uma paróquia em Barbalha, a de São Vicente de Paulo, com sede no bairro Alto da Alegria, o bairro chique da Terra de Santo Antônio...