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quinta-feira, 12 de março de 2009

Rapadura cultural



Surgido da alma popular em forte inquietação, o Programa Rapadura Cultural, criado e dirigido pelo professor e folclorista Jorge Carvalho Alves de Sousa, já conta com quase 10 anos de ininterrupta ação de resgate, defesa e divulgação dos valores regionais, especialmente daqueles artistas do povo que seguem fora da grande mídia e dos grandes eventos. Tece, nas praças, a nossa identidade a partir das mais legítimas manifestações da cultura popular, aglutinando seresteiros, folguedos, cordelistas, forrozeiros, compositores, mamulengueiros, palhaços, poetas marginais, gente humilde que conta e faz história.

Há três anos, foi-lhe acrescentada uma programação anual de caráter especial denominada DE ADERALDO A PATATIVA, sempre no dia 14 de março (Dia do Poeta), na qual são homenageados poetas e cantadores de todos os tempos.

Este ano de 2009, exatamente na 3ª Edição do evento, será homenageado o maior poeta do Ceará, Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, em virtude do transcurso de seu centenário de nascimento. Nascido em Assaré-CE, em 5 de março de 1909, faleceu em 8 de julho de 2002. É o segundo filho de Pedro Gonçalves da Silva e Maria Pereira da Silva. Foi casado com D. Belinha, de cujo consórcio nasceram nove filhos. Publicou Inspiração Nordestina, em 1956, Cantos de Patativa, em 1966. Em 1970, Figueiredo Filho publicou seus poemas comentados Patativa do Assaré. Tem inúmeros folhetos de cordel e poemas publicados em revistas e jornais. Está sendo estudado na Sorbonne, na cadeira da Literatura Popular Universal, sob a regência do Professor Raymond Cantel. Patativa do Assaré era unanimidade no papel de poeta mais popular do Brasil. Para chegar onde chegou, tinha uma receita prosaica: dizia que para ser poeta não era preciso ser professor. 'Basta, no mês de maio, recolher um poema em cada flor brotada nas árvores do seu sertão', declamava.

Cresceu ouvindo histórias, os ponteios da viola e folhetos de cordel. Em pouco tempo, a fama de menino violeiro se espalhou. Com oito anos trocou uma ovelha do pai por uma viola. Dez anos depois, viajou para o Pará e enfrentou muita peleja com cantadores. Quando voltou, estava consagrado: era o Patativa do Assaré. Nessa época os poetas populares vicejavam e muitos eram chamados de 'patativas' porque viviam cantando versos. Ele era apenas um deles. Para ser melhor identificado, adotou o nome de sua cidade.

Filho de pequenos proprietários rurais, Patativa inspirou músicos da velha e da nova geração e rendeu livros, biografias, estudos em universidades estrangeiras e peças de teatro. Também pudera. Ninguém soube tão bem
cantar em verso e prosa os contrastes do sertão nordestino e a beleza de sua natureza. Talvez por isso, Patativa ainda influencie a arte feita hoje. O grupo pernambucano da nova geração 'Cordel do Fogo Encantado' bebe na fonte do poeta para compor suas letras. Luiz Gonzaga gravou muitas músicas dele, entre elas a que lançou Patativa comercialmente, 'A triste partida'. Há até quem compare as rimas e maneira de descrever as diferenças sociais do Brasil com as músicas do rapper carioca Gabriel Pensador. No teatro, sua vida foi tema da peça infantil 'Patativa do Assaré - o cearense do século', de Gilmar de Carvalho, e seu poema 'Meu querido jumento', do espetáculo de mesmo nome de Amir Haddad. Sobre sua vida, a obra mais recente é 'Poeta do Povo - Vida e obra de Patativa do Assaré' (Ed. CPC-Umes/2000), assinada pelo jornalista e pesquisador Assis Angelo, que reúne, além de obras inéditas, um ensaio fotográfico e um CD.

Como todo bom sertanejo, Patativa começou a trabalhar duro na enxada ainda menino, mesmo tendo perdido um olho aos 4 anos. No livro 'Cante lá que eu canto cá', o poeta dizia que no sertão enfrentava a fome, a dor e a miséria, e que para 'ser poeta de vera é preciso ter sofrimento'.

Patativa só passou seis meses na escola. Isso não o impediu de ser Doutor Honoris Causa de pelo menos três universidades. Não teve estudo, mas discutia com maestria a arte de versejar. Desde os 91 anos de idade com a saúde abalada por uma queda e a memória começando a faltar, Patativa dizia que não escrevia mais porque, ao longo de sua vida, 'já disse tudo que tinha de dizer'.


PROGRAMAÇÃO

09:00 horas – Abertura
09:30 horas – Reisado Decolores Dedé de Luna do Muriti
10:00 horas – Viola e Repente: Sílvio Grangeiro e Francinaldo Oliveira
11:00 horas – Recital Patativa do Assaré com o Mestre Luciano Carneiro
11:30 horas – Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto
12:00 horas – Encerramento

LOCAL: EM FRENTE À PRAÇA SIQUEIRA CAMPOS

Por prof. Francisco Jorge Carvalho Alves de Sousa
Coordenador do Rapadura Cultural

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