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quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O Crato e seu futuro


Por Otavio Luiz Rodrigues Junior*
O Crato, até o início dos anos 1980, manteve sua economia fortemente baseada na pecuária (leiteira e de corte), na cana-de-açúcar, cerâmica, café e cotonicultura. O comércio e o setor de serviços também mereciam destaque, embora a concentração dessas atividades em Juazeiro do Norte já fosse considerável. Nos anos 1980-1990, as mudanças climáticas, a perda de competitividade, as pragas agrícolas, a míope política de desenvolvimento regional do Cariri (se é que houve algum planejamento sério nessa área) e a fraqueza política do Crato conduziram ao mais longo e sensível processo de decadência econômica no município dos últimos 80 anos.

A introdução de uma base industrial mínima, ligada fortemente ao setor de calçados e de metalurgia, não conseguiu romper com esse processo. Quando muito, foi responsável por estagná-lo. As dificuldades logísticas, com a rede rodoviária em péssimo estado e sem transporte ferroviário, subtraem a competitividade desses segmentos, que resistem graças ao empreendedorismo e à criatividade de seus líderes e dos trabalhadores. Nos anos 1990, o Ceará assistiu ao vitorioso processo de expansão do ensino superior iniciado pela Universidade do Vale do Acaraú, em razão da brilhante aliança do reitor José Teodoro Soares com a Igreja e a sociedade sobralense. De modo restrito, apesar de condições superiores, esse movimento chegou ao Crato. O nascimento de uma “economia universitária”, volt ado para a oferta de serviços aos estudantes que acorriam de diferentes cidades para ter aulas no “campus” da Universidade Regional do Cariri, foi um novo alento para o município. Com os jovens, um influxo de mudança e de novos ares chegou ao Crato.

Desde então, poucas inovações na Economia foram sentidas. A década de 2000, que ora se encerra, só não foi mais negativa porque o Crato – e o Cariri como um todo – favoreceram-se do crescimento econômico brasileiro, cujos efeitos positivos não deixaram de chegar à Chapada do Araripe. Os programas sociais do Governo Lula – e mesmo antes, na era Fernando Henrique Cardoso – também serviram para incrementar a renda das classes sociais menos favorecidas.

Todo esse cenário é revelador de que a mudança econômica do Crato só ocorrerá quando houver a percepção de três fatores essenciais: a) a identificação de sua vocação econômica; b) a recuperação dos meios de transporte; c) a unidade da classe política em torno de investimentos estruturantes. Sem isso, pouco ou nada mudará na vida da região.

Independentemente disso, o horizonte do Crato abre-se esta semana com o anúncio pela Agência Nacional de Petróleo – ANP de que investirá 15 milhões de reais nas pesquisas iniciais sobre a existência de óleo no subsolo do município. É um momento festivo e que vem acompanhado de muita esperança por todos. Esse fato, que se poderá revestir do maior significado histórico, poderá introduzir o necessário debate sobre o que o Crato deseja para seu futuro: se o desenvolvimento ou o atraso. O tempo passa e cobra um pesado tributo dos dele nada fazem. É chegada a hora de pensar o futuro, antes que o passado nos devore.

* Doutor em Direito Civil (Universidade de São Paulo) e Pós-Doutorando em Direito Constitucional (Universidade Clássica de Lisboa).
Fonte: Site do Jornal do Cariri (http://www.jornaldocariri.com.br/)

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