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quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Pinto Madeira

"Paisagem da Cidade de Crato em 1859" - aquarela de José Reis - (acervo do Museu de Arte Vicente Leite) desenhada no Alto do Barro Vermelho no local onde foi fuzilado o monarquista Pinto Madeira.


Por Armando Lopes Rafael


Joaquim Pinto Madeira nasceu no sopé da Serra do Araripe, na localidade de Silvério, município de Barbalha. Devemos ao historiador Irineu Pinheiro, uma monografia, editada em 1946, de onde recolhemos algumas informações sobre este personagem, que passou à história como um dos mais conhecidos caudilhos do Cariri. Cresceu Pinto Madeira entre os afazeres da agricultura, em tempos de ódios e torvas intrigas. É que, diferente de hoje, o Cariri do século 19 era povoado, em boa parte, por gente dada à violência e ao crime. A esse respeito, o naturalista escocês George Gardner, em seu livro “Viagens ao Brasil” editado em 1838, escreveu “serem rebeldes às leis os habitantes do Cariri”, região que, no seu dizer, “era um esconderijo de assassinos e vagabundos de toda a espécie vindos de todos os recantos do País”.


Já a elite caririense, àquela época, se dividia entre simpatizantes da ideologia republicana e adeptos dos princípios da Monarquia, regime de governo vigente no Brasil. O confronto dessas idéias era motivo para contendas as mais variadas.

Afeiçoado por índole às coisas da Monarquia e à Família Real, Pinto Madeira, lutou ativamente contra os que promoveram movimentos libertários e republicanos, como a Revolução Pernambucana, em 1817 e Confederação do Equador, em 1824. Após a derrota da família Alencar, que organizou a Revolução Pernambucana de 1817 no Crato e em Jardim, coube a Pinto Madeira conduzir até a cidade de Icó os 20 malogrados presos políticos. Provavelmente, durante o percurso, esses presos políticos sofreram humilhações por parte do caudilho, o que não é de admirar, face ao temperamento belicoso de Pinto Madeira.

Escreveu Irineu Pinheiro: “nunca perdoaram os Alencares e os liberais cratenses a ação de Joaquim Pinto Madeira naquelas duas agitadas fases da nossa história”. Além da sua participação nesses dois movimentos, após a abdicação de Dom Pedro I ao trono brasileiro em 1831 aliou-se Pinto Madeira ao atrabiliário Padre Antônio Manuel de Sousa, vigário de Jardim, pois ambos julgavam que os liberais teriam forçado o Imperador a renunciar. Tratava-se de um engano, desmentido posteriormente pela história. Foi o que bastou para os dois organizarem uma milícia, com cerca de dois mil homens, a maioria armada com rudimentares espingardas e invadirem a cidade do Crato, para dar caça aos liberais. Nessa invasão, Pinto Madeira não pôde (ou não quis) conter os violentos revoltosos, que saquearam o comércio e residências, cometeram assassinatos e queimaram arquivos. Pressionado pelo governo, Pinto Madeira negociou sua rendição com o famoso general Labatut, que o conduziu preso ao Rio de Janeiro. Depois de um ano, o caudilho foi transferido para as prisões de São Luís do Maranhão, onde amargou, por mais dois anos, as agruras do cárcere.

Retornou preso ao Crato em 1834. Neste ano, num júri parcial - composto por antigos inimigos seus- Pinto Madeira foi condenado à forca. Não pelo crime de sedição, mas sob a acusação de ter ordenado, anos atrás, a morte de um parente de um dos jurados. Para se ter uma idéia da parcialidade do julgamento, basta dizer que as testemunhas em favor de Pinto Madeira foram espancadas às portas do Tribunal de Júri, localizado no Senado da Câmara, hoje Museu de Fósseis, na Praça da Sé. Sem falar que pela Lei de 11 de setembro de 1826 nenhuma sentença de morte, em qualquer parte do Brasil, poderia ser executada sem subir primeiro à presença do Imperador. Pinto Madeira tentou usar o direito de apelação a que fazia jus, o que lhe foi negado pelo juiz, de forma ilegal. Sentindo que era seu fim, Pinto Madeira, alegou sua condição de Coronel, pedindo para ser fuzilado ao invés de enforcado.

Irineu Pinheiro arremata na sua monografia: “Morreu virilmente Pinto Madeira. Conta a tradição, ouvida por mim desde menino, que momentos antes do fuzilamento, ofereceu-lhe um lenço, para que vedasse os olhos, um dos seus mais implacáveis inimigos. Recusou o condenado a oferta (...) Durante anos a fio, fez-lhe promessas o rude povo do sertão, considerando-o um mártir, isto é um santo”.

Fonte: Cariricaturas

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