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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A ANTROPOLOGIA DE LUTO


Por Zé Nilton

Morre em Paris, aos 100 anos, um dos fundadores da Moderna Antropologia e mentor do estruturalismo nas Ciências Sociais, Claude Lèvi-Strauss.
Deixou um legado dos mais instigantes no campo das Ciências Humanas, notadamente na Antropologia, ou Etnologia, como ele preferia nomear a ciência do homem.
Pouco contato tive com sua obra na graduação em Ciências Sociais. Em teoria antropologica não passamos de Emille Durkheim. Era o tempo da escuridão, os anos setenta. Curioso, um dia descobri um único livro seu na biblioteca. Era “Tristes Trópicos”, ainda não traduzido. Como não estava no index da ditadura, levei para casa. Fiquei extasiado diante daquele escrito, um misto de literatura e ciência. Um discurso comparativo sobre duas realidades construídas historicamente: o novo e o velho mundo, as relações do homem com a natureza e seu contínuo e progressivo distanciamento dela rumo à cultura (sociedade).
A perplexidade do autor diante de uma realidade desconhecida empresta mais encanto à obra, e suas reflexões sobre o significado da civilização e do progresso agudiza o nosso pensamento sobre o mundo e suas descontínuas trajetórias. Aliás, Lèvi-Strauss disse um dia que a Antropologia serve para a gente pensar.
E foi assim eu me peguei um dia, nos confns da Chapada do Araripe, em meio as comunidades de pequenos agricultores, pensado o que significava tudo aquilo que vivenciava nas minhas “observações participantes” sobre o mundus camponês. Intrigava-me a capacidade de “tradução” de meu qualificado informante, o Sr. Pedro Honório, daquele universo exótico que eu havia de torná-lo familiar, condição indispensável para o sucesso na pesquisa de campo.
Pedro Honório falava-me dos lugares, da terra, dos matos, do tempo, do trabalho, das festas e das pessoas com tamanha profundidade, que comecei a desconfiar da relevância da oposição entre ciência e senso comum. Quando falava da vegetação, principalmente, meu informante seguia uma classificação, uma taxonomia local, para que serve e para que não serve esta e aquela planta, que ia das gramíneas às maiores árvores, tanto nas áreas antrópicas quanto na floresta.
Eureka ! Lèvi-Strauss jogou uma luz, e que luz no meu pensar e nas minhas desconfianças. Foi na leitura de “ O Pensamento Selvagem” que pude entender a lógica da ciência, da ciência que não é senso comum, mas é outra maneira de classificar as coisas da dinâmica interna da cultura, e com isto entender e viver no mundo.
Eis o sentido do “relativizar”, um constructo antropológico que clareia o sentido do diferente, do outro, da alteridade, da deficiência de uma verdade universal.
Aprendi com o velho pensador francês, vindo da Filosofia e, por isto mesmo, agregando valor as Ciências Sociais, principalmente na Antropologia, em refino, estilo, arte e beleza, que podemos conviver pacificamente em sociedade quando, em algum momento, tenhamos que “suspender” nossos conceitos e olhar e compreender o outro na sua diferença, não como uma imagem distorcida e intolerante do meu eu, mas como um espelho em que me vejo e me retoco como ser humano...

4 comentários:

Océlio Teixeira de Souza disse...

Parabéns José Nilton pelo texto e pela homenagem ao grande pensador do século XX, Claude Levi Strauss. Na realidade, creio que não apenas a antropologia está de luto, mas todo o mundo acadêmico, sobretudo nossa área de ciências humanas, visto que os trabalhos e teorias de Levi Strauss influenciou outras disciplinas, como a história, a sociologia, a psicologia, etc.
Abçs grande amigo.

Carlos Rafael Dias disse...

Prof. José Nilton, como mestre em Antropologia, está de luto, assim como todo o mundo acadêmico, pela morte de um dos maiores pensadores do século XX: Claude Levi Strauss. O Homem foi mas a Obra permanece, para continuar como referência da Antropologia Cultural.

Anônimo disse...

Amigos professores Carlos Rafael e Océlio.
Obrigado. É isto. Morre o homem e sua obra fica. Vasta e influente.
Interessante é observar como o excelente Caetano Veloso padece da mesma visão etnocêntrica de Lèvi-Strauss. Não é que o olhar estrangeiro de Strauus "detestou a baia da Guanabara". Sua perplexidade ao defrontar, em plena juventude,com um mundo desconhecido, contraditório, sem o rebate das paisagens naturais e culturais de hoje, que faz o Rio essa lindeza, a baia da Guanabara realmente parecia com "uma boca banguela".
Faltou em Caetano contextualizar a visão do estrangeiro. Aliás, essa é uma das críticas que o grande Cliford Geertz faz a Strauss.
Bom, vamos parar por aí. Eu estava só pensando sobre coisas, como o grande mestre ensinou.
Abs.

Anônimo disse...

" que fazem o Rio essa lindeza