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sexta-feira, 2 de abril de 2010

Semana Santa - por José do Vale Pinheiro Feitosa

A Semana Santa não é a mesma no tempo e entre as pessoas.

Para os católicos fieis se passa como um ritual religioso especial, o principal, talvez, de sua religião, a religião do Cristo. Ou seja, daquele que foi crucificado. Este é o momento em que o sacrifício, como que uma imolação tão cara ao mundo oriental, de Jesus ao Pai traduz o centro da liturgia da Santa Missa.

Diria que apenas para as camadas populares mais pobres, para o clero e para aquelas pessoas muito ligadas ao dia-a-dia da igreja, esta é, efetivamente, uma semana tipicamente religiosa. Para as pessoas mais abastadas e apenas partícipes de algumas missas dominicais, a semana santa é mesmo um feriado e um dia especial na mesa do cotidiano.

Haveria um elo entre uma situação e outra, além do feriado? É muito difícil dizer, apesar dos noticiários e dos relatos de missas, procissões e autos teatrais repetindo o sacrifício. Este certamente funciona como um pano de fundo seja na TV, no Rádio ou nos jornais, sem contar as eventuais manifestações nas ruas. Nas ruas centrais, pois em grandes aglomerados nem isso se percebe.

Como dizia: apenas pano de fundo, pois o que rola mesmo é o feriado, a mesa especial à base de peixe, a praia no litoral, o açude nos sertões, os bares, as praças e os shoppings. Ao invés da lembrança do sacrifício, o que se vê é o alívio da danação do trabalho e dos deveres escolares para os jovens. Nada por fazer, a não ser os grilhões que ainda se fixam nas paredes sobre a escravidão da mulher em sua domesticidade cultural.

Quando interiorano, ao invés deste computador e sua tela escrita, íamos para os sertões. Mais para o interior ainda, então vivia num sítio nos arredores da cidade do Crato no Ceará. A lembrança que restou, aquela que selecionei é da umidade do terreno, o intenso verde a preencher os buracos da caatinga, as flores, a cantoria alegre dos pássaros em plena nidificação. As crianças de alçapão e do visgo já sabiam: na semana santa não se pode aprisionar os pássaros, eles morrem.

A lagoa e o açude eram de energia jamais encontrada na minha vida, nem nas mais alegres praias. Nadando com meu pai, os tios e amigos. O mergulho que me remetia para a profundidade da vida, para um mundo que existe abaixo e ao qual desconheço. Ir lá embaixo e beber a água mais fresca que refrigerador nenhum já me deu. Os insetos na superfície da água, o cágado que se morder o pé de alguém apenas solta com trovão de estalo. A galinha d´água e o tetéu no breu da noite anunciando a coleção de água em que se encontra.

Jerimum, maxixe, muito queijo, feijão verde, leite, coalhada, milho verde e cuscuz de milho novo uma coleção de sabores de semana santa. De sertão renascendo, pipocando vida em cada brecha, a cada loca de pedra, em minúsculos túneis, no arrasto do chão. A semana da vida. Experiência introspectiva extrema junto a mais exuberante que o sertão conseguia de extroversão. Por isso nunca me separo do extrorso pelo qual o pólen se volta para o externo a mim.

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