Seja colaborador do Cariri Agora

CaririAgora! é o seu espaço para intervir livremente sobre a imensidão de nosso Cariri. Sem fronteiras, sem censuras e sem firulas. Este blog é dedicado a todas as idades e opiniões. Seus textos, matérias, sugestões de pauta e opiniões serão muito bem vindos. Fale conosco: agoracariri@gmail.com

domingo, 20 de abril de 2008

A Bandeira do Brasil e as suas controvérsias (Jornal "O Povo" 20-04-2008)


por Ronaldo Rogério Mourão(*)
A única bandeira a representar várias constelações, ou melhor, a retratar o aspecto do céu num determinado momento é a brasileira. Por isso ela deveria constituir uma representação astronomicamente mais precisa

Idealizado pelo positivista Raimundo Teixeira Mendes (1855-1927), sob a orientação de Miguel Lemos (1854-1917), a bandeira brasileira foi desenhada pelo pintor Décio Vilares (1851-1931). As posições das estrelas foram fornecidas pelo astrônomo e engenheiro Manuel Pereira Reis (1837-1922).

As primeiras oposições à bandeira fizeram com que Teixeira Mendes redigisse um artigo-justificativa do simbolismo do pavilhão, que ficou conhecido como Apreciação Filosófica, no Diário Oficial de 24 de novembro de 1889. Logo em seguida à adoção da bandeira, chegou a ser divulgada no exterior a notícia de que o Brasil iria adotar o calendário positivista. Informado pelo Delegado do Tesouro, em Londres, de que esta última notícia provocará má impressão, Rui Barbosa telegrafou: "Desminta. Essa notícia é disparate em que ninguém pensou aqui e que ninguém ousará propor ao Governo", segundo relato publicado em Deodoro a Espada contra o Império (1957) de Raimundo Magalhães Júnior.

Erros Antes de uma análise mais profunda dos aspectos astronômicos de nossa bandeira, gostaríamos de fazer alguns comentários sobre os seus principais pontos críticos: desprezo à tradição, legenda positivista, simbologia e heráldica sem fundamentos e erros astronômicos, como muito bem demonstrou Eduardo Prado, em A Bandeira Nacional (1903). Teixeira Mendes em sua Apreciação Filósofica, argumenta, para eliminar a Cruz do estandarte do Império, que o novo simbolismo se fazia "não mais por meio de um sinal que é atualmente um símbolo de divergência (a cruz), mas por meio de uma constelação". Por uma contingência da vida, a legenda Ordem e Progresso acabou se tornando uma divergência, surgida tão-logo foi anunciada a nova bandeira, o que motivou uma carta de Teixeira Mendes ao Diário Oficial de 26 de novembro de 1889.

A nova divergência foi tão intensa que permaneceu por quase um século, pois um decreto do governo José Sarney instituiu uma comissão para estudar a bandeira, onde se deveria verificar, segundo as notícias divulgadas por um dos assessores do ministro da Justiça, Oscar Dias Correia, se a expressão "Ordem e Progresso" deveria continuar.

Aliás, convém lembrar que o maior dos nossos inventores, Alberto Santos Dumont, se recusou sempre a usar o nosso pavilhão, com base no argumento que ele não exprimia o sentimento da nação brasileira, pois se tratava do emblema de uma seita e nada mais, e repugnava-lhe a idéia de ser propagandista de um lema sectário. Por este motivo, nos seus momentos de glória e de perigo, substituiu a bandeira por uma simples flâmula verde e amarela, como relata Clóvis Ribeiro, em Bandeiras e Brasões do Brasil (1933).

Aliás, o positivismo não está só no pavilhão, mas também na Armas da República que, segundo Gustavo Barroso, no terceiro volume de sua História Secreta do Brasil (1938), inspirou-se na estrela flamígera ou flamejante dos templos maçônicos, onde o G, no interior da estrela, que significa gnose, ou seja, sabedoria, foi substituído por um círculo com as 21 estrelinhas representativas dos Estados, na periferia, e o Cruzeiro do Sul, no centro. Na realidade, os adversários das concepções maçônicas e/ou positivistas esquecem que esses dois movimentos foram fundamentais no estabelecimento da independência e da república no Brasil. Portanto, justo será conservá-los em reconhecimento.

(*) Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo, fundador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins e autor de 85 livros, entre eles O Livro de Ouro do Universo. www.ronaldomourao.com

Nenhum comentário: