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segunda-feira, 12 de maio de 2008

Interblogs

Marcos Leonel, cujo nome artístico já foi Marcos Lobisomem, colocou no ar um blog superinteressante, que publica poemas, crônicas, críticas e o escambau: http://marcosleonel.blogspot.com/.
Suas crônicas, a despeito do estilo literário muito qualificado, recobram histórias que, apesar de serem rigorosamente verdadeiras, estariam hoje esquecidas por terem sido protagonizadas no ambiente underground regional , como esta abaixo narrada. (Carlos Rafael).




BANDAS QUE TOCARAM E QUE TOCAM
AMIGOS INTOCÁVEIS


Essa é uma das inúmeras variações da Nacacunda. Sendo que essa é muito próxima da formação original, que contava com Rafael nos vocais; Rubinho no baixo; eu na guitarra; e João Eimar na bateria. Essa formação conta com uma modificação feita às pressas, especificamente para esse dia: que foi a colocação de Rubinho no baixo, posto que já estava sendo ocupado por Igor Arraes. Essa formação também tem a presença de Roger na bateria. Com a curiosidade especial voltada para a própria bateria, feita artesanalmente por Régis, com o material que se podia pagar no momento.
Esse foi um dia instigante, pitoresco, inusitado e completamente hilariante. A Região estava recebendo a visita de Regina Casé, para uma produção cearense de um programa que ela tinha na Globo, enfocando a cultura, os costumes e o povo das mais diversas regiões do país. A produção estava à procura de uma banda que ilustrasse a produção musical pop. Em visita ao sebo Alan Poe, (hoje Solaris) alguém entrou em contato com Manuel Barros ele indicou a nossa banda.
Ficou agendado então algumas tomadas com a banda para, talvez, serem aproveitadas no programa. Primeiro alguém sugeriu a locação em cima do teto do Panorama Hotel. Nos deslocamos para lá com toda a tralha e nada rendeu, pois o teto tinha uma cobertura de telhas de amianto, que cobriam um depósito, depois do último andar. Manuel então deu a idéia de que as tomadas poderiam ser feitas em uma chácara que ele morava. A locação e a boca de cena é essa da foto. A aparelhagem é cômica: uma única caixa, com todos os instrumentos ligados em uma mesa de seis canais, das piores do mercado. A produção achou massa, pois era apelativo, aquela coisa de lutar contra as dificuldades, de sermos do sertão e tal. A câmera que se vê na foto era de última geração, um verdadeiro contraste com tudo aquilo.
Existia uma platéia numerosa por trás da câmera. Todos na esperança de ver e paparicar Regina Casé, é claro. Tocamos exaustivamente a mesma música, A Crua, uma música esquisita, de minha autoria, na linha da fusão com rock e música regional das bandas pernambucanas do momento e outras como Raimundos. A letra da música provocou a curiosidade da produção: “oh meu Jesus, oh meu Jesus / me dê uma luz, me dê uma luz / e um prato de cuscuz / é a fome, é a fome / essa cruz a vida inteira...” Mas essa música chegou a causar vergonha entre alguns presentes nesse dia inesquecível. Algumas pessoas afirmaram que ela era ridícula e que aqui no Cariri ninguém passava fome. A banda não estava nem aí, fomos nos divertir e tirar onda com a cara do povo, se rolasse alguma ponta no programa seria lucro
Depois de muita onda Regina Casé apareceu. Muito besta, muito arrogante. Completamente diferente daquela imagem que ela passa, de ser muito popular e muito dada. Muito pelo contrário, nem com os donos da casa ela falou, quanto mais com o resto. Por um lado foi bom, pois no meio da galera tinha um povo dispensado demais, que estava ali só para aparecer. Depois André Mileto, o produtor principal ficou se desculpando. Ele não gostou muito quando a gente afirmou que não tinha interesse mesmo de conhecê-la, pois ela era feinha demais, mas se fosse a Malu Mader a coisa não ia ficar assim não.
Não rolou nada. Ninguém pegou ninguém. Quebrei um pedal compressor. Roger perdeu a carteira, depois encontrada dentro da caixa. Ainda hoje Igor tem bronca nossa, pois a gente não conseguiu entrar em contato com ele, pois ele morava, e ainda mora, em terras distantes demais e naquele tempo não existia celular, nem moto-táxi, duas invenções fundamentais para quem passa por esse processo de distanciamento da civilização.

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Meu comentário:

Carlos Rafael disse...

Marcos, It´s all true!

Lembro bem deste dia, mas não conhecia todos os detalhes, pois fui convocado em cima da hora para a gravação.
Nossa aparição no Brasil Legal (era esse o nome do programa de Regina Casé, na Rede Globo), não rolou. Só deu Alemberg Quindins do começo ao fim.
Essa música, Carne Crua, foi depois classificada para a eliminatória Norte Nordeste do Festival Skol Rock, que reunia bandas inéditas de todo o país.
De representantes do Ceará, somente nós e O Surto, que depois tocou na última edição do Rock´N´Rio.
A nossa apresentação aconteceu na primeira noite, no Centro de Convenções de Pernambuco, entre Recife e Olinda.


A letra era mais ou menos assim:


Oh meu Jesus, meu Jesus
Me dê uma luz, me dê uma luz
E um prato de cuscuz
Desses de mêi de feira
É a fome, é a fome
E essa cruz a vida inteira


Quero saber da sua parte
Como é que desata o nó
Do catabi, da catacumba
Não dê adeus se for s’imbora
Nem todo cipó enrola
Nem tudo que geme chora


Oh meu Jesus, meu Jesus
Me dê uma luz, me dê uma luz
E um cobertor de urêia
De cabeleira bem macia
Boca da noite é muita feia
Quando rasga inté rudia


Quero saber da sua parte
O que resta pro nordeste
Se o rebuliço continua
Se virar primo da sorte
Depender de caba da peste
Eu como inté carne crua


Bons tempos!



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