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sexta-feira, 16 de maio de 2008

A Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio de Barbalha – Parte 1


Ao longo dos próximos dias vou publicar neste blog, e noutros dos quais sou colaborador, alguns textos sobre esta rica manifestação da cultura e da religiosidade populares do Cariri. Inclusive, vale salientar que encontra-se em processo de conclusão os estudos sobre a Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio de Barbalha pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, atualmente, em parceria com a Fundação Padre Ibiapina, da Diocese de Crato, a fim de que a mesma seja registrada nos Livro das Celebrações como patrimônio cultural imaterial do povo brasileiro. Neste primeiro texto vou discutir o primeiro momento da Festa: a escolha e o corte da árvore que servira de mastro à bandeira de Santo Antônio.

O Cortejo com o Pau da Bandeira de Santo Antônio, como momento oficial de abertura dos festejos em homenagem ao Santo Padroeiro, teve início em 1928, por iniciativa do vigário Padre José Correia de Lima, que se inspirou no costume popular existente em Barbalha de hastear a bandeira do santo festejado durante as festas juninas e por ocasião das renovações. Ao longo desses oitenta anos muitas foram as mudanças ocorridas na forma de realização desse evento religioso popular. No entanto, os significados, embora tenham sofrido algumas alterações, permanecem até hoje: homenagem ao santo padroeiro e afirmação social e religiosa dos carregadores, bem como da sua força e virilidade.

Segundo os carregadores antigos a escolha do pau da bandeira nem sempre foi uma tarefa fácil. Algumas vezes o pau escolhido não era aceito pelo conjunto dos carregadores, pois o mesmo não atendia aos requisitos exigidos, quais sejam: o pau da bandeira deve ser grande e grosso. Colocar nos ombros um pau maneiro ou pouco pesado não fazia e não faz sentido. O orgulho dos carregadores é entrar na cidade carregando um grande pau. A própria população de Barbalha não aceita um mastro diferente.

Ainda segundo os carregadores antigos, pelo menos desde os anos 40 do século passado, a escolha e o corte do pau ocorrem alguns dias antes do carregamento. Desses dois momentos participavam apenas alguns homens, coordenados pelo Chefe do Pau ou Capitão do Pau, como hoje é chamado o líder dos carregadores. A partir de meados dos anos 90, no entanto, o número de participantes começou a aumentar consideravelmente. Hoje, são centenas de pessoas que sobem a serra para acompanharem o corte do pau. Com isso, o momento do corte do pau transformou-se numa grande festa, quando homens e mulheres adentram a mata, muitas vezes sem a devida consciência ecológica.

Nesse sentido, creio que, atualmente, a questão fundamental é: como conciliar a preservação dessa inestimável expressão cultural e religiosa do povo brasileiro com a preservação do meio ambiente? Na minha visão o problema reside não propriamente no corte da árvore, mesmo porque centenas de mudas são plantadas. Nem no instrumento que corta a árvore ou no dia em que ocorre o corte, como argumenta o respeitável representante do Instituto Chico Mendes na matéria postado pelo jornalista Tarso Araújo.
No meu entender o problema reside no enorme contingente de pessoas que invadem o local onde se encontra a árvore. É preciso encontrar mecanismos que protejam o meio ambiente, mas que não desvirtuam a cultura nem os costumes tradicionais populares. E mais ainda: que não coloquem em risco o processo ora em andamento de registro da Festa como Patrimônio Cultural Imaterial. É preciso que haja um diálogo entre todos os envolvidos na Festa (poder público, carregadores, Igreja Católica, órgãos de fiscalização ambiental, etc.). E que esse diálogo não seja marcado pelas disputas político-partidárias, como às vezes acontece. Santo Antônio, o homenageado, com certeza retribuirá com infinitas graças.


Océlio Teixeira de Souza
Professor do Departamento de História da URCA e autor da dissertação de mestrado: A Festa do Pau da Bandeira de Barbalha: entre o controle e a autonomia (1928 – 1998), apresentada em agosto de 2000 ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.

Um comentário:

Carlos Rafael Dias disse...

Grande Océlio,

Que veio de outras plagas enriquecer o Cariri com suas pesquisas e cidadania (ao contrário de outros que só vêm convulsionar).

O Cariri saberá sempre julgar...

Carlos Rafael