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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

RELÓGIO COM PEÇAS DE BICICLETA E MOTO



Um relógio de igreja fabricado com peças de bicicletas e motos. A idéia foi do mecânico José Luiz de Lima, conhecido como “Zé Relojoeiro‿, residente na Vila de São Sebastião, zona rural do município de Brejo Santo, a 502km da capital cearense. Católico praticante, envolvido em todos os movimento pastorais da igreja, o mecânico prometeu fabricar o relógio da paróquia quando a igreja fosse inaugurada. Igreja construída, promessa cumprida.

No dia da inauguração do novo templo, Zé Relojoeiro instalou na torre o relógio mecânico fabricado por ele numa pequena oficina ao lado de sua casa. Foram mais de 10 anos de trabalho. A fabricação do relógio acompanhou o ritmo da construção da igreja. Quando os trabalhos paralisavam, o mecânico também suspendia a fabricação do relógio.

Finalmente, em 1998, o relógio subiu à torre da igreja, sob os aplausos da multidão que hoje dorme, acorda, trabalha e programa suas atividades ao som do sino do relógio que, segundo seu fabricante, não tem fim. "Se não faltar manutenção, este relógio vai ficar para meus bisnetos", diz.

O equipamento é movimento por dois pesos de 15 e 35 quilos, que funcionam quatro dias sem dar corda. Porém, todos os dias pela manhã, ele sobe na torre, escalando uma escada de ferro e duas de madeira, com o objetivo de inspecionar o funcionamento da engenhoca. "É emocionante saber que a população da vila está sendo guiada por um objeto fruto de sua criatividade", diz.

Noites sem dormir

Zé Relojoeiro acalenta o seu invento, sem se preocupar com o tempo gasto para a fabricação dele, o valor financeiro da obra e a dificuldade para subir à torre. O mecânico lembra que passou noites sem dormir, projetando na cabeça o seu sonho. Recorda as freqüentes peregrinações que ele fazia nas sucatas à procura de uma peça para cumprir o seu compromisso, que representava um desafio a si próprio.

Partindo do principio de que "a dor ensina a gente a gemer", o velho relojoeiro não se intimidou diante da falta de material para cumprir sua promessa. A criatividade foi mais forte do que a adversidade. A maioria das peças foi encontrada em sucatas. Outras foram fabricadas pelo próprio mecânico em sua própria casa ou na oficina de ferreiro de seu pai, Antonio Inácio, um dos mais conhecidos fabricantes de foices e machados da região. Algumas carretas foram torneadas na piscina de um primo.

As engrenagens, que ocupam um pequeno espaço, menos de um metro quadrado, acionam quatro mostradores que são avistados de todos os pontos da vila. O mecânico lembra que os relógios sempre foram fundamentais, através de séculos da história cristã, para a composição de fachadas ou torres de igrejas, não apenas como elementos decorativos, mas, principalmente, como companheiros da comunidade. Ele lembra que os sons dos sinos fazem com que os fiéis levantem os olhos, se lembrem de Deus e da sua Igreja.

CRIATIVIDADE
Inventor já consertava relógios desde criança

Brejo Santo. Nascido e criado na zona rural, filho de um ferreiro, José Luiz de Lima teve que improvisar os seus brinquedos enquanto criança. Cresceu ouvindo o barulho harmonioso do batido do martelo na bigorna. Intuitivamente, o menino assimilou a criatividade de seu pai na fabricação de instrumentos de trabalho agrícolas. Enquanto o velho ferreiro forjava o ferro no fogo, o menino José caldeava sua personalidade de artista.

Com oito anos de idade, já consertava os relógios desmantelados de seus familiares. A falta de peças aguçou a sua inteligência. Quando não tinha, ele as fabricava. Era a repetição da arte do velho pai que fabricava em sua oficina os instrumentos que não eram encontrados no mercado.

A pequena oficina é um exemplo de sua criatividade. A maioria dos instrumentos de trabalho foi fabricada e adaptada por ele. Em 1975, conseguiu um diploma de relojoeiro. Transferiu o seu atelier para a cidade de Brejo Santo, onde além de consertar relógios pequenos, é chamado para fazer a restauração dos medidores de hora das igrejas da região.

Projeto eletrônico
Com a chegada dos relógios eletrônicos, a maioria da população passou a descartar os relógios mecânicos e o trabalho de Zé Relojoeiro diminuiu. Mas ele mantém a sua oficina como um dos últimos guerreiros de uma profissão que caminha para o seu desaparecimento.
Ele tem consciência da importância do seu relógio mecânico para posteridade. No entanto, já tem na cabeça o projeto de um relógio eletrônico, que será acionado por uma bateria de 12 voltes. Aí sim, a comunidade da Vila de São Sebastião não vai mais precisar de Zé Relojoeiro para dar corda no relógio.

Alegria
"Para mim, é uma alegria ouvir o tica-tac da máquina, rodando os ponteiros", expressa. As batidas do sino lembram que, na passagem do milênio, um menino pobre escreveu seu nome, com fé amor e criatividade, na torre da igreja de sua comunidade.


Mais informações:
José Luiz de Lima
Vila de São Sebastião
Zona rural de Brejo Santo
(88) 9207.9815
(88) 3521.7113
Diário do Nordeste

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