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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Descaso com a saúde: crescimento da mortalidade infantil repercute entre moradores do Crato

Por Anamaria Duarte
Editoria de Cidades

Repercute em toda a região do Cariri a notícia sobre o crescimento da mortalidade infantil na cidade do Crato. Na mesma matéria, publicada na edição do dia 27 de janeiro no JC, outros municípios da Região, também, apresentaram avanço na taxa da mortalidade infantil, enquanto algumas cidades conseguiram reduzir óbitos de recém-nascidos ao índice zero.

A desativação do único hospital pediátrico do Município - o Hospital Monsenhor Rocha, que funcionava conveniado com a Prefeitura e o SUS (Sistema Único de Saúde), pode ter contribuído para o aumento nas taxas de mortalidade infantil, principalmente, as chamadas perinatais, de zero a sete dias, registradas pelo UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Criança e Adolescência) na cidade do Crato.

O hospital funcionou no município do Crato até o ano de 2005 quando foi fechado, segundo os antigos donos, por falta de recursos financeiros. O hospital era de caráter privado e disponibilizava atendimento de urgência para crianças e adolescentes. Funcionavam 300 leitos, sendo 100 destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS), além de dois centros cirúrgicos, oito leitos na UTI, e 50 leitos pós-cirúrgicos. O hospital chegou a possuir mais de 100 funcionários e, no período do fechamento, tinham apenas 32 pessoas trabalhando.

Uma ex-administradora do hospital, que pediu para ter a sua identidade preservada, disse que a situação estava bastante precária e não havia mais como mantê-lo funcionando. Ela afirmou também que foi realizada uma reunião com o prefeito Samuel Araripe onde foi passada toda a situação na qual se encontrava o hospital, mas, segundo ela, nada foi feito e, por isso, foi tomada a decisão de suspensão das atividades da unidade de saúde.

‘'Não havia como continuar. As condições eram péssimas e nós não tínhamos apoio de ninguém. Nem da prefeitura, nem do governo do Estado'', afirma ex-dirigente do Hospital Monsenhor Rocha, ressaltando que foi feito um planejamento para a desativação do local, pois os sócios tinham conhecimento do quanto esse ato iria prejudicar a população.

Na gestão do prefeito Samuel Araripe, o hospital fechou as portas e a prefeitura nada fez. Pelo contrário, Samuel transformou o único hospital pediátrico do município no centro administrativo da prefeitura. Ao invés de intervir e tentar solucionar a crise financeira que a instituição estava passando, para que o município não perdesse o hospital, a prefeitura alugou o prédio e o transformou em centro administrativo, onde funcionam as Secretarias de Saúde, Meio Ambiente, Turismo, Infra-estrutura, e Agricultura e os departamentos de Limpeza Pública, o Almoxarifado e a garagem.

O prédio, onde antes funcionavam salas de raio-x, ambulatórios, leitos para atender crianças e adolescentes, agora tem birôs de secretários e de dirigentes de órgãos da administração municipal. O atendimento pediátrico na cidade do Crato é feito atualmente no hospital São Francisco, que não tem espaço para receber a demanda existente e, também, atender a crianças que vem de cidades vizinhas, como Araripe, Assaré, Antonina do Norte e várias outras.

Hospital Santa Tereza
Prefeitura atrasa repasse e pacientes são prejudicados


Por Anamaria Duarte

Estão comprovados os inúmeros problemas que afetam a saúde no município do Crato. Como se não bastasse o descaso com a saúde infantil, outro setor que vem sofrendo as conseqüências da falta de assistência é o de pacientes com problemas mentais.
A Casa de Saúde Santa Tereza, único hospital psiquiátrico da Região do Cariri, está com problemas. A demanda de pacientes é muito grande, pois além de suportar os doentes da região ainda recebe pessoas de outros estados como Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Piauí.

Luciana Abath, filha de um dos sócios e, também, administradora do local, diz que estão lutando de todas as formas para não desativar o Hospital. Segundo ela, os projetos do Governo para responsabilizar apenas o Centro de Apoio Psicossocial (CAPS) pelos pacientes com problemas psicológicos não é viável. "O CAPS pode responder por problemas mais simples, que não precisem de internação ou de cuidados mais específicos. O Hospital pode oferecer melhor estrutura para os pacientes, mesmo que não seja a melhor", afirma Luciana.

A prefeitura do Crato, de acordo com Luciana, faz o repasse com até um mês de atraso. Segundo Luciana Abath, a verba que deveria ser repassada pela prefeitura não é feita em dia. Ela afirma que a prefeitura recebe o dinheiro do Governo do Estado no quinto dia útil de todo mês, mas faz o repasse entre os dias 20 e 25. E já houve caso em que foi feito no último dia do mês.

Luciana afirmou para o JC que já houve casos em que ela foi pessoalmente procurar o prefeito Samuel Araripe em seu gabinete. "Quando ele me viu, na mesma hora mandou o empregado pegar o cheque e me passar, ou seja, o dinheiro estava com a prefeitura, é como se eles fizessem de propósito", desabafa Luciana. Para não atrasar o pagamento dos funcionários e comprar o que é necessário para o Hospital, a administração faz todo mês um empréstimo no banco para adiantar o pagamento das despesas, tendo assim que pagar juros bancários todos os meses.

Repórter espera quatro horas, mas Samuel prefere o silêncio

A reportagem do JC procurou o prefeito Samuel Araripe para falar sobre a repercussão para a saúde da população da transformação do hospital pediátrico em centro administrativo e, também, das queixas de atraso no repasse de recursos de convênio. Após três idas à Prefeitura, a reportagem não foi atendida pelo prefeito. Foram mais de quatro horas de espera nas três visitas ao gabinete do prefeito. O chefe de gabinete de Samuel Araripe, Cícero França, não intermediou a conversa com o prefeito, que, segundo ele, "estava bastante ocupado". França não agendou a entrevista solicitada pela repórter. Foram quatro horas de espera para tentar falar com o prefeito do Crato. O JC também tentou através de ligações para o celular do prefeito e para sua residência, todas sem sucesso.

O povo fala

O JC foi às ruas do Crato para ouvir a opinião de moradores que vêem com preocupação o aumento nos índices de mortalidade infantil. Veja abaixo a palavra de moradores.

Qual a sua opinião sobre o fato de no Crato ter aumentado a mortalidade infantil?
Nos últimos anos, a condição de saúde da população na cidade do Crato tem sido motivo de preocupação para muita gente que necessita de amparo, principalmente para famílias carentes. A falta de assistência para crianças recém-nascidas, pela falta de UTI's neonatais, que proporciona maior expectativa de vida para recém-nascidos portadores de complicações, como por exemplo o RN pré-maturo tem sido algo sério e preocupante. Pois é justamente a preocupação que as instituições tem tido com relação a esse serviço que tem estabilizado a taxa de mortalidade em alguns municípios do Ceará.
Weynne Regina, acadêmica de enfermagem.

É revoltante que uma população como a do Crato, com mais de 100 mil habitantes tenha que precisar de outros municípios no que diz respeito à saúde. O aumento da mortalidade infantil significa descaso por parte da Secretaria de Saúde com o município. Barbalha tem metade da população de Crato, cerca de 50 mil habitantes, e não há justificativa para o fato das crianças do Crato precisarem ser transferidas para lá em caso de urgência após o parto. É inadmissível que as crianças do Crato estejam morrendo mais que em municípios menores.
Reinaldo Garcia Silva, representante comercial.

Um sistema de saúde que não oferece UTI para recém nascidos, que freqüentemente necessitam da Unidade de Terapia Intensiva, é visivelmente precário. E com certeza isso contribui para o aumento da mortalidade infantil no Crato.
Aurenita Carneiro Alencar, estudante de Ciências Contábeis.

Tenho um filho de 4 anos. Graças a Deus muito saudável e eu tenho certeza que o atendimento que ele recebeu quando nasceu na UTI na maternidade São Vicente de Paulo, em Barbalha, foi fundamental para o seu desenvolvimento. Quantas crianças já foram a óbito por conta da falta de assistência e quantas ainda vão precisar morrer aqui no Crato para as autoridades melhorarem a saúde do município?
Jackeline Barbosa, mãe e técnica em Enfermagem.

A saúde da população precisa ser a principal preocupação dos órgãos públicos. Todos têm o direto a uma saúde de qualidade. Não é possível que uma cidade como o Crato, com mais de 100 mil habitantes, que ainda mais é um "apoio" para cidades circunvizinhas como Nova Olinda, Assaré e outras, esteja com a saúde tão precária. Não entendo e não há justificativa para isso.
Weylla Arraes, professora de educação Física e estudante de Enfermagem.

A população cratense precisar se deslocar para os municípios vizinhos, em busca de salvar suas crianças recém nascidas é uma vergonha.
Kelly Almeida, graduada em letras

Jornal do Cariri

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